Aos 47 anos faço parte dos 27% da população brasileira da geração perennials ou ageless generation com mais de 35 anos, representada por mulheres que não atendem aos padrões sociais de envelhecimento. Usamos jeans, camiseta, cuidamos da saúde, atualizamos a “meia idade” e engolimos a loba descrita por Regina Lemos nos anos 80. Com rigor, nos diferenciamos da mulher de 40 anos atrás, resgatada por si própria das amarras da opressão sexual e da superioridade masculina. Economicamente ativas, independentes e sexualmente bem resolvidas – as ageless buscam alguém real e leve para dividir bons momentos. Em sua maioria, já saíram de casamentos e por isso, manter uma relação morna, passional ou instável – não faz parte dos seus planos. Acordar com “oi sumida” ou se deparar com um tiktok nas preliminares, se repete com maior frequencia e tem levado milhões de pessoas a buscarem sites de relacionamento.
Pesquisas realizadas em 2020 informam o aumento da busca por sites como o Tinder. Ao lado disso, o Colégio Notarial do Brasil, registrou 76.175 divórcios em 2020 e 37.083 divórcios de janeiro a julho de 2021, com aumento de 26,9% de divórcios extrajudiciais. O Pará está no 15º lugar do ranking com 1272 divórcios em 2020 e 410 em 2021. Pessoas casam menos desde 2015, com uma redução média de 26,1% de 2020 até aqui. Há queda nos enlaces, também entre casais do mesmo sexo. Os números evidenciaram desgaste nas relações conjugais em razão do longo período de convivência na pandemia, causando conflitos a partir da divisão de papéis sociais desempenhados no ambiente doméstico, revelando desigualdades no trabalho feminino e no tempo despendido pela mulher à economia de cuidados.
Há uma completa disforia nas relações conjugais, e desde 2020, muita gente busca os apps, seja para apimentar a relação e dividir os segredos de alcova nas salas de streaming ou para fugir da rotina. Todos se renderam ás facilidades de interação sem exposição ou compromisso
Bauman (2004) já anunciava o contexto de fragilidade dos laços humanos a partir da teoria dos líquidos e foi precursor das relações afetivas que têm duração de um teaser, se mede por likes e se estreitam pelo envio de nudes. Especialistas afirmam que o Amor está desaparecendo diante das infinitas possibilidades de escolha deste marketplace. Um mercado bilionário da internet que reinventa o Amor e vai render mais de 8 bilhões de dólares até 2024, oferecendo aos consumidores uma variedade ilimitada de produtos na prateleira. Os algorítmos dão match, e quando a relação evolui pra vida real, não é fácil preencher o check-list afetivo das ageless. Para Byung-Chul Han (2017), essa dificuldade de encontrar o Amor, reside na anulação que fazemos do outro e sua alteridade. Só o igual é consumível na sociedade do desempenho onde busca-se alta performance afetiva e sexual. Expectativas frustradas são justificadas pela meritocracia do jogo de sedução, que logo dá lugar à motivação de uma nova conquista.